quarta-feira, 3 de novembro de 2010

A marcha


A sinopse, o resumo, a interpretação. A meia palavra, o intervalo do silêncio. Somos de forma abstrata, tão pouco compreendida, tão pouco preenchida. Intelectos graduados rabiscam, exploram qualquer indício de imaginação.

A marcha é lenta, a disritmia, o descompasso, a cadência, o enredo, todos nos enfream, nos embaraçam. Não sou catálogo, não sou Santo, sou um gaudério pop com ares de rock ‘n’ roll, não muito clássico, não muito punk. Às vezes sou cidade, às vezes sou interior.

Caboclo de pele queimada, mãos rachadas pelas horas. Do relógio os ponteiros me observam, na crua vida que nos cerca, nesses cretinos Ensaios.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Morte das Palavras



    Aqui descansa um “blogueiro”, discutindo seus anseios com o tempo. Em uma vida nada saudável, dormindo pouco, e quando dorme exagera a dose.

   Escrevo, sinto, discuto, questiono, apago toda imagem distorcida. Rima com torcida, no qual toda família longínqua prevalece. E a saudade que nela habita, se tele transporta pra toda minha vida!

   Junto tudo e desafio a cronologia das coisas, os dinossauros, os medos, as metáforas. Nessas que me encaixo, fico abobado, esperando que ela venha e me dê um murro, quando caio em criatividade.

   Não muito nessa ordem, pois não gosto de seguir padrões pré-estabelecidos. A falta do criar angustia-me, devora-me. Sinto um desconforto, é como se tivessem tirando incansavelmente partes do meu cérebro com colherinha. Desconfio do excesso de café, da falta de cerveja. Mas convenço-me que é falta do que falar.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Recomeço


Recomeço



Ando por ruas que não conheço. Tropeço, olho pro lado e ninguém vê. Não quero andar rápido, quero só chegar. Mas, corro ofegante, estou fora de forma, não consigo pensar, estou de férias. Estou gordo, colesterol a mil, cheio de dúvidas. Coisa rara é emagrecer nessa fome de glória.

Dirijo-me em direção ao original. Mas, curvo-me às influências, reproduções, tributos do subconsciente. E a inquietude de “quebrar” a cara é algo incontrolável. Ofereço carona ao acaso. E lá vem a “vida”, mostrar aquele polegar estendido, preste a embarcar nessa cilada, com todo o seu orgulho na bagagem. Conduzindo-nos a derrota, com aquele velho sorriso amarelo, ela nos mostra a lástima. Ou, você acha que palhaço não sofre?!

Somos paisanos, coadjuvantes da realidade, não queremos confetes sobre nós, queremos nos fardar, queremos assistir, ao invés de estar no palco desse teatro chamado sonho. E no final da peça você é que determina, já que o fim é o meio pro recomeço.



terça-feira, 20 de julho de 2010

O amor não é teoria



O amor não é teoria

Hoje sei que o amor não é teoria.
Somente prática, corporativa.
Efetivando a pluralidade dos sentidos.

Sinto um colapso distinto.
Quando muitos escondidos.
Mostram-se vigorosos, bem maduros.

Nesses barrancos, tão poucos miúdos.
Absorve-se o calor.
Tão puro gesto como a flor de seus espinhos.

A disposição de seu conteúdo.
Fortalece o seguro.
Do sentimento primitivo.

Do chão ao porto-seguro.
Meu único recurso
É você e o infinito.

Hoje sei que o amor não é teoria,
Nem prática abusiva,
Tão pouca alegoria.

Não esconde a melancolia,
De um lindo amor.
O amor não é teoria.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Intuição


Intuição



Me disseram pra não acreditar

Nas concordâncias que a vida solta

Não sei como conjugar

O verbo que está na minha mão:



Amor, reticência ...

Loucura...



Amor, reticência ...

Loucura, exclamação !



Me disseram pra não acreditar

Nas sobras que a vida devora

Não sei como relevar

Toda essa intuição



Me disseram pra não acreditar

Nada, em cima da mesa posta

Não sei como comprar

Sentimento em liquidação:



Amor, reticência ...

Lourura ...



Amor, reticência ...

Loucura, exclamação !

quarta-feira, 9 de junho de 2010

DENTRO DESSA JAULA



DENTRO DESSA JAULA


A comunicação é uma variável constante diante do seu tempo. Tendências comunicacionais e revolucionárias surgem numa explosão tecnológica voraz. Com rapidez e acidez, os métodos de interatividade da informação “corrigem” nossas retinas com colírios manipuladores.


O império televisivo atualmente não vem mais nos atingindo como antes, quando ficávamos a frente das “besteiras” sempre no mesmo horário nobre. Engolíamos uma espécie de sensacionalismo barato com gosto de sangue. Nesta nova “era” não cabe mais esse abuso, é a TV agora que fica nos assistindo, procurando o que há de melhor nos anônimos, para assim oferecer uma “chance” dos “ilustres” virarem celebridades instantâneas.


Um marketing inteligente e barato é o canal Youtube. De forma revolucionária ele concentra inovações da “arte” dos meios digitais. Esse canal de comunicação nos remete as perspectivas que tínhamos da informação.


Hoje, sua “arte” pode ser assistida em todo o mundo. Isso é curioso, pois o seu quarto pode ser exibido em uma pequena janela para todo o globo, enquanto o universo “hipnotiza-se” com dramaturgias ilusórias sem contexto com a realidade do país. Inúmeras pessoas passam 15 minutos de seu dia distraídas no Youtube. É uma plataforma de desligar do real e ir para o imaginário “faroeste” contemporâneo.


Na abordagem televisiva brasileira, o público é um objeto comum e ignorante, a TV é considerada uma indústria de entretenimento. Com esse raciocínio, os lares brasileiros tornam-se alienados e apunhalados pela falta de “liberdade” de pensar. É ai que o Youtube aparece como símbolo maior e revolucionário, já que estávamos engessados na frente da “telinha”. É o canal que liberta a interatividade, não precisa trocar o “canal”, você está no canal, e o mundo lhe vê. Cria-se uma atmosfera de novos comportamentos no audiovisual, já a qualidade é questionável, pois as percepções são distintas entre as comunidades. Um exemplo é um vídeo ser assistido por ser engraçado, ao invés de ser de cunho informativo. Que agregue o conhecimento e não pura diversão.


No entanto, podemos refletir: “será que a televisão me deixou burro, muito burro demais? E agora eu vivo dentro dessa jaula junto dos animais!”, não podemos esquecer que é a nossa imaginação tem que explodir, prosseguir e não calar.


Essa transição da nova plataforma de se obter informação favorece as novas gerações que ganharão tudo “mastigado”. Nessa relevância o Youtube é a célula geradora para as novas percepções comunicativas. Em apenas 30 segundos você pode atravessar a barreira da manipulação e tornar-se conteúdo. Mostrar sua visão, sua habilidade, interferir como nunca anteriormente. Podendo assim sair dessa “jaula”, já que o “nosso lado animal de vez em quando precisa tomar sol”.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Extinção




Extinção

A normalidade é um estado questionado nos meus pensamentos, já que muitas vezes não me sinto igual aos outros.
Durmo com a solidão e acordo com a esperança de ser normal.
Encontro pessoas que se parecem comigo, mas num piscar de olhos evaporam-se, ou nem mesmo existem, somente nos meus devaneios.
Concluo que estou em extinção!
Sigo as coordenadas do meu coração, que no momento está aberto à propostas. Não falo em amor ou algo parecido, me refiro a compreensão mútua com o mundo.
Me afasto do correto, do eterno, do modismo.
Enquanto a memória me leva a infância: brincava com meus amigos imaginários e corria no universo paralelo do meu quintal.
Prefiro compor do que ser da artilharia de frente.
A estratégia é ser assim e não assado.
E “eu juro que é melhor não ser um normal”, mesmo cevando o amargo.












http://www.youtube.com/watch?v=3SN9PLfa_p4

quarta-feira, 24 de março de 2010

A sorte que esculpimos


A sorte que esculpimos

Com a necessidade de encontrar um significado para a vida, refletimos e julgamos o acaso. Uma aleatoriedade de sentidos nos incomoda ao pressentir esse precipício à nossa frente. Esse processo ou vício de cair nos fragiliza.


Dizer que está “sem sorte”, perde a nossa característica fundamental de saber que a vida não é um “rolar de dados”, nem uma experimentação constante. A sorte nos persegue como a sombra, podendo escurecer conforme a luz que você enlaça, deixando a vida com significados confusos.

Temos a sorte de não saber pra onde vamos e quem somos, isso nos ajuda a não roer as unhas. A sombra e a sorte são constantes variáveis que nos permite a ilusão de deixar TUDO nas mãos de Deus.


A sorte é simples, não se precisa de números mágicos e nem pares perfeitos e eternos. Mendigar de barriga cheia é um absurdo, já que a sombra é para TODOS neste deserto de incertezas.


E se você para pra pensar, talvez possa ver o quão sortudo é. Mas, prefere enfeitar, dizer que teve um “dia de sorte”, ao invés de encarar essa sorte em cada alegria vivida. Parece mais misterioso, não?


Dá-se o nome de sorte uma série de acontecimentos que contribuem de uma forma agradável para nosso dia-a-dia. Correto? Mas se observarmos como são bem esculpidos nossos dias, não será justo denominar “sorte” em tão poucos momentos.


Precisamos buscá-la no que já vivenciamos, pois felizes seremos quando conceituarmos menos o que temos ao nosso redor, não precisa nomear-se tudo que vemos pela frente.


A sorte de que falamos é simples e encantadora, sabe ser silenciosa e transparente. Mas perceba desfrute e agradeça, pois, possuímos mais do que imaginamos, porém, infelizmente o costume não nos permite dar o valor merecido. Veja que somos senhores dos nossos sonhos, das nossas vontades e loucuras. E talvez um dia isso justifique a afirmação “tive sorte nessa vida”.

Texto: Patrícia Lima (rainbowgray.blogspot.com) / Douglas Barreto

domingo, 21 de março de 2010

Lisistrata - Mundo binário, mundo dos instintos


Lisistrata - Mundo binário, mundo dos instintos

Guerra e paz, o certo e o errado, o sim e o não. São opostos que a história não consegue dividir, e que nos persegue como cão e gato. Está ai mais uma conciliação binária e que não conseguimos viver sem tal combinação.


Opostos servem para atrair? Parece contraditório, mas desde o princípio, homem e mulher têm em sua essência a cor da sintonia imperfeita, e que podemos denominar essa sintonia de Paixão. Paixão que nos remete fazer coisas especiais e que nunca poderíamos fazer em estado normal da mente. Talvez o normal não seja beijar alguém em plena manhã, com bafo da bebedeira da noite anterior e dizer: bom dia meu amor, por exemplo.


Em Lisistrata, comédia Grega de Aristófanes, a Paixão é representada um tanto quanto complexa e divertida. Imagine salvar o mundo fazendo greve de sexo, isto mesmo, greve de sexo. Mulheres se reúnem com o intuito de protestar contra a guerra, com embasamento nas paixões de seus maridos e seus princípios familiares. A história se passa num período não muito diferente do nosso, refiro-me à guerra existente no ser humano, desde então, como forma de instinto. Lisistrata nada mais quer que, combater um instinto com outro instinto. Isto quer dizer guerra contra sexo.


Bem que poderíamos refletir sob diversos aspectos desse tema, imagine as capas com as seguintes notícias:


1. Mulher de ex-traficante carioca diz que está “tomando chumbo grosso” em casa após guerra civil;
2. Locações de filmes eróticos chegam à marca de 100 % do P.I.B. nacional;
3. Mulheres palestinas aderem ao topless;

Em tempos que guerreamos por religião e glorificamos deuses do consumo desenfreado, nada mais faz sentido. Será que Lisistrata conseguiria justificar seus “meios” nos dias atuais? Faríamos guerra de sexo para obter paz? Será que conseguiríamos? Lisistrata em grego significa “a que dissolve exércitos”. Que exército que defendemos? Por mais que insistisse por paz, Lisistrata também batalhava com seu exército de mulheres. Há uma solução?


Vivemos buscando explicações de nossa existência ao longo tempo. Diagnósticos nos revelam por inteiro, na nossa aparência, nos nossos conflitos internos. Guerreamo-nos diariamente com nossas paixões. Enquanto a solução, talvez quando um singelo abraço não vire mais uma cena de suspense nesse mundo binário.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Das cinzas


Das cinzas


Das cinzas do Amor serei lembrança.

E por tê-lo sempre canto.

Me encanto, pelo sutil e casto pranto,

Que há de chegar nesse momento.

Renascerei em cada lamento,

Remindo o amor no meu canto.

No entanto, nunca saberei o quanto

Irei cantar a esse sentimento.

O Amor chega em ondas sonoras, em assovios.

“E quem assovia nem sente
Como a melodia é dolente
E as vezes vai dando na gente
Vontade também de chorar.”

Ah, se eu soubesse cantar!

Ah, se eu soubesse assoviar!

Seria imortal, seria Fênix. Meu Amor.


“” trecho extraído da canção “Assovio” de Paulo César Pinheiro.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Molduras



Molduras

Nas paredes do mundo, pessoas são molduradas, aguardando para serem preenchidas por uma auto-estima qualquer, como num desenho a ser rabiscado por uma criança, quando aqueles mal traçados incompreensivos, tornam-se seus super-heróis. Personagens de sua imaginação revelam-se em sua mente por meio de publicidades abusivas e livros de auto-ajuda.

Açoitados pela mídia, consumidores alienam-se com a exploração do ridículo, esquartejando sentidos com gírias culturais pertinentes. Definindo assim o “hit” do próximo verão. Quem define as cores da próxima estação?

Ficamos a procurar nossa identidade, maquiamos nossas tristezas, angústias, medos, em forma de modismo. Elevamos nosso ego e deixamos nossa essência de lado. Molduramo-nos.

No entanto, estamos pregados na parede diante das besteiras televisivas, “mentalizando” o vazio. Servindo de manequim para muitos, deixando nada contendo no pobre coração.

Esquecemos que somos como filmes em preto-branco, basicamente puros, singelos e frágeis diante da composição natural. Fomos pendurados no varal ao vento por religiões pré-estabelecidas. Assim somos toda a cor e estampa neste mundo de tendências.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

REPARO QUE REPARAM


REPARO QUE REPARAM


Hoje, um dia normal. Aqueles dias azedos. Você “pega” um ônibus lotado, olha para o lado e vê uma senhora com um guarda-chuva. E pensa: será que vai chover?

Corro o olho atentamente para o relógio eletrônico, da praça, que além de informar as horas, fornece a temperatura, que no momento é 27° graus. Isso não é uma beleza?

E cada vez mais entra gente dentro do ônibus.

Fico escutando o meu “radinho” para amenizar a situação. Tento me desconectar, fugir do calor. As janelas estão abertas, está abafado, meus pensamentos também.

Tento me concentrar, mas reparo que as pessoas reparam-se. Reflito intensamente, e disparo um reparo através das lentes dos meus óculos escuro. Está abafado, e continuo reparando.

Reparo-me, faço analogias estranhas, sem sentido nenhum. Contextualizo a estética das pessoas, com a direção do olhar que as mesmas metralham. Um cabelo diferente, muitos livros nas mãos, são sinais de reparo fortíssimos dentro de um ônibus. Ainda bem que estou de pé. Reparo que entra uma senhora bem velhinha com um guarda-chuva. E agora? Quem vai sair de seu lugar, para a senhora sentar?

A senhora "passa" a roleta, e está aproximando-se de mim, e eu ali "esmagado" pelo bafo do calor. E as pessoas continuavam reparando entre si.

Penso no que as pessoas pensam sobre mim: Pra onde este "loco" vai? O que ele faz da vida? Será que estuda? Pois está com uma mochila! Se estuda, estuda o quê? E a velhinha ainda de pé.

Sinto que tem algumas pessoas que fogem desse "jogo de reparo". Elas se tele-transportam para dentro de um livro, dentro de um pensamento, ao olhar penetrante através do vidro do ônibus.

Começo a rir por dentro, pois ninguém sabe que estou sem almoço, que estou sem grana, que estou com sono, que estou sem água em casa, que estou reparando todo muito. Convenço-me que é melhor parar de rir, pois, vá que descubram. Não quero que ninguém repare nesses fatos, da minha singela vida. Quero sair ganhador desse "jogo".

Está chegando à hora de descer, já avisto a minha "parada". Peço licença para a senhora, que ainda está de pé, cheia de sacolas em uma mão, na outra um belo guarda-chuva (aqueles que demoram um pouco mais para quebrar). Ela olha para mim, e abre uma brecha, que mal passa meu braço.

Desço. Desculpo-me pelas esbarradas que dou na trajetória de saída. Caminho e reflito: "Tenho que relatar isso". "Um dia azedo, torna-se em um dia engraçado". "E o pior, num pegar de ônibus".

Sigo caminhando sob o sol, ameaçando chuva, e reparo que cabelos estranhos devem ser sim reparados, e a falta de cabelo também. Acho que me reparam, pela falta deles.